Gostaríamos que o procurador escrevesse um novo artigo sobre o papel da imprensa no caso do Dr. Joaquim Ribeiro Filho e apontasse os avanços que ajudou a realizar na relação entre a imprensa e as fontes policiais e o que fez para diminuir a superficialidade com que é tratada a justiça criminal na mídia (ver trecho do artigo do procurador de 2006, abaixo).
Gostaríamos que fizesse uma análise documentada das manchetes, das denúncias lançadas a todo momento pelas "fontes policiais" e publicadas sem qualquer esforço de apuração pelas redações, das manchetes inverídicas, dos ocultamentos de informação (ver perguntas sem respostas)
Gostaríamos que documentasse a total exclusão de depoimentos de pacientes a favor do médico, o vazamento do conteúdo das escutas fora de contexto feito aos jornais (sem que o médico sequer fosse ouvido para contradizê-los na denúncia), a profunda confusão sobre o que é um sistema de transplantes, os critérios da fila e o que vinha sendo a perseguição realizada pela Central de Transplantes do Rio. Por que demoraram tanto a "regularizar a fila"? O que ocorreu com cerca de 200 pessoas "desaparecidas" da lista? Alguma autoridade resolveu investigar? A imprensa preocupou-se em apurar?
Gostaríamos que o procurador abordasse, também, a total inoperância das autoridades fiscalizadoras com relação à "situação "meio desorganizada"" (sic) do sistema de transplantes no Rio (tudo o que a Central diz é publicado sem questionamento), que abordasse a total desconsideração da defesa que o médico já vinha fazendo na Justiça, que se posicionasse - publicamente - sobre o vazamento de documentos apreendidos na casa do médico para o jornalismo hediondo montar suas matérias absurdas (quem foi o responsável por isso?). Nesse caso, gostaríamos de saber como reagiriam os policias federais - ver o caso do delegado Protógenes- e os procuradores se isso ocorresse com eles.
(O crime e a imprensa - Marcelo Miller)
Revista ANPR Online - número 2 - julho/outubro 2006 (para ver a íntegra, clique no link)
(...)É verdade que as instituições encarregadas do combate ao crime têm um longo caminho a percorrer no aperfeiçoamento de seu diálogo com a imprensa. Elas ainda confundem discrição com introversão e precisam resistir à tentação de confundir comunicação social com propaganda. Também é verdade que a imprensa poderia ajudá-las com um esforço ampliado de compreensão do papel de cada uma no sistema de justiça criminal e do funcionamento do próprio sistema em seu conjunto. O balanço das operações da Polícia Federal publicado pelo Jornal O Globo em 12/11/2006 reflete essas verdades ao fazer um alerta importante, mas sem dois dados essenciais: nem as operações da Polícia Federal são exclusivas da Polícia Federal, pois são controladas pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público, nem os processos judiciais são realidades apartadas do que a investigação policial consegue apurar.
Esse balanço é apenas um exemplo do modo e do tom que têm prevalecido na cobertura jornalística dos problemas de segurança pública. Um estudo sobre mídia e violência desenvolvido no ano passado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (clique no link) confirma o que uma leitura atenta sinaliza: a imprensa é altamente dependente de fontes policiais e trata o sistema de justiça criminal de maneira superficial.
(...)
Uma abordagem jornalística do problema da segurança pública ao mesmo tempo mais sofisticada e mais combativa, em que as disfunções do sistema de justiça criminal deixem de ser tratadas como exceções e seus êxitos sejam recebidos com ceticismo e ponderação, em que não haja, enfim, afinidades eletivas nem escolha de heróis e vilões, poria a imprensa mais perto do papel destacado que ela desempenhou, por exemplo, nas discussões sobre o combate à inflação e a responsabilidade fiscal. O Brasil agradeceria mais uma vez.
Ver: Marcelo Beraba. Nas mãos da Polícia - Folha de S. Paulo27/02/2005
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