terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dr. Joaquim com os Médicos Solidários e o Carnaval da Doação

Ouça: "Para sempre no seu coração - Carnaval da Doação" (Santana/Ricardo Fantasia)
 Mocidade Independente de Padre Miguel 2003 ao vivo - Para sempre no seu coração - Carnaval da doação


Artigo:
PARA SEMPRE NO SEU CORAÇÃO CARNAVAL DA DOAÇÃO
Joaquim Ribeiro Filho*
[2003]
" Um gesto de amor faz alguém sorrir /
Só o doador faz a vida prosseguir /
Basta se conscientizar / A família querer aceitar /
Pro sonho se realizar "

Com este enredo, a Mocidade Independente de Padre Miguel, dá uma contribuição inédita e de grande porte para o desenvolvimento dos programas de transplante de órgãos no Brasil, com repercussões mundiais. Ao longo deste ano, acompanhei o trabalho desenvolvido na Mocidade para o carnaval 2003. Do medo inicial, gerado pela escolha de tema tão inusitado no carnaval, à empolgação que hoje toma conta de todos os componentes da Escola, divulgou-se em grande escala o tema doação de órgãos e tecidos.

Paulinho do Gogó, diretor de harmonia, organizou um mutirão de doação de sangue no período pré carnavalesco, com os componentes do barracão e de Padre Miguel, principalmente da comunidade de Vila Vintém, suprindo diversos bancos de sangue públicos da cidade do Rio de Janeiro. Os diversos setores da escola, muito voltados para questões técnicas, não têm a exata dimensão de sua contribuição. Os pacientes que padecem nas crescentes listas de espera para órgãos, seus desesperados familiares e os angustiados profissionais de saúde nunca poderão pagar tamanho gesto de solidariedade.
Os versos simples do início do samba-enredo tocados e cantados nas rádios, na televisão , nos ensaios, nos desfiles de rua e, finalmente, no sambódromo, explicam em larga e popular escala como fazer a vida prosseguir:

" Os olhos ganham luz vêem cores / cura os males e as dores / renovando os conceitos sociais ", a Mocidade fez, faz e fará a maior campanha de educação e de conscientização da população em torno de um gesto de extrema grandeza e de solidariedade, que é, num momento de perda de um ente querido, a família autorizar a doação de órgãos propiciando salvar crianças, mães e pais de famílias, gente cuja única perspectiva é a morte iminente ou a luz da escuridão. É preciso que os profissionais de saúde, incluindo seus dirigentes, encarem um paciente que evoluiu para morte cerebral, não como "dépassé", mas sim como potencial doador, capaz de doar o fígado, os rins, o coração, as córneas, os pulmões, o pâncreas, o intestinos, ossos e pele. Recente reportagem da Revista Isto É, capa inclusive, mostra o Brasil como o segundo país em números absolutos de transplante no mundo, e ressalta como boa notícia o crescimento de transplantes inter-vivos. Este crescimento reflete a deficiência do sistema de captação de órgãos no Brasil. Este honroso posto de 2° lugar nos coloca a frente de grandes e populosos países: Rússia, China, Índia, Paquistão, Indonésia, Nigéria ou mesmo do Japão (razões religiosas), entretanto, se analisarmos os números proporcionais à população, estamos atrás dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália e de quase todos os países da Europa Ocidental, além de Chile e Argentina. O índice de captação de órgãos no Brasil subiu de 3,3 por milhão de habitantes por anos de 1995 para 4,4 em 2001 e provavelmente em 2002 (ainda não divulgado pela Associada Brasileira de Transplante de Órgãos), contra 10 a 20 nos países que nos superam. os índices de negativa familiar no Brasil encontram-se dentro dos níveis internacionais, portanto o nosso principal problema trata-se de organização ou mais precisamente de desorganização do sistema. Só no Estado do Rio de Janeiro, estima-se em cerca de 40 o número de pacientes que evoluem para morte cerebral por DIA.

É claro que a maior parte destes pacientes evolue para parada cardio respiratória, sem que seja possível se iniciar o protocolo de manutenção do doador e de abordagem da família para que seja efetivada a doação. Se atingíssemos um índice mínimo de 3% de aproveitamento teríamos 36 doações por MÊS no Estado do Rio de Janeiro, entretanto, em 2002, ocorreram apenas 60 doações no ANO, menos de 1/6 do percentual mínimo de aproveitamento. No exemplo de Fernando Pinto, antigo carnavalesco da Mocidade de Padre Miguel, homenageado no enredo de Chico Spinoza e cantado no samba: "Este artista iluminado / doou toda a sua criação / sua imagem é chama viva / Para sempre no seu coração. SALVE A MOCIDADE !!!
Por
* Joaquim Ribeiro Filho, médico solidário, que também é cirurgião geral, professor doutor da UFRJ e Coordenador do Programa de Transplante de Fígado da UFRJ

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