quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A procuradora e o HGB

No início dos anos 90, ele [Dr. Joaquim] montou a primeira equipe de transplantes de fígado do estado no hospital da UFRJ, -conhecido como Fundão. Com o passar do tempo, ela se firmou como uma das mais eficazes do país. Em 1998, por exemplo, seus médicos fizeram doze transplantes. Dois anos depois, quarenta. A boa fase durou até 2001, quando houve uma cisão no grupo. “Identifiquei algumas pessoas da minha equipe que estavam fazendo cobranças indevidas por cirurgias e fiz duas denúncias”, disse Ribeiro. “Está tudo nos autos do mesmo processo em que sou acusado, só que esse ponto nunca foi investigado. Essas pessoas usavam meu nome e cobravam dinheiro dos pacientes para os inscreverem na fila. Descobri porque, por coincidência, um dos achacados era primo de um amigo meu.”
Os médicos aos quais ele se refere – Marcelo de Oliveira, Lúcio Moreira e Alexandre da Silva – desligaram-se do grupo e formaram outra equipe de transplantes no Hospital Geral de Bonsucesso. Ribeiro nunca mais falou com os ex-colegas e a disputa entre os dois clãs azedou cada vez mais. (Marcelo de Oliveira disse que nem ele nem seus dois colegas dariam entrevista sobre o ex-chefe.)
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A procuradora Mônica Campos de Ré entrou com uma ação de improbidade administrativa na Justiça Federal, na qual defendeu o afastamento de Ribeiro do Rio Transplante. O primeiro laudo, feito pelo Hospital de Bonsucesso, atestou que o fígado estava livre de esteatose, o excesso de gordura, e podia ser transplantado. Um segundo laudo, preparado pelo Fundão, detectou microamartomas biliares, lesão pré-maligna com grande potencial de desenvolvimento de câncer no paciente. “Ou seja, era uma coisa muito pior do que ter esteatose”, disse Ribeiro. “Quem lesse atentamente o laudo de Bonsucesso ia ver que isso já estava explicado lá. Mas a ânsia deles em me incriminar era tão grande que se restringiram à esteatose.”

O Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde, o Denasus, também investigou tanto o caso de Bonsucesso como o de Jaime Ariston. A auditoria concluiu que o fígado implantado em Ariston, retirado de um homem de 40 anos e 80 quilos, deveria ter sido encaminhado a uma criança de 2 anos de idade, que estava na frente na lista.

Joaquim Ribeiro deu a seguinte explicação: “O auditor disse que deveríamos ter cortado um pedaço do fígado e colocado na criança, o que foi feito pelo Hospital de Bonsucesso dias depois. Só que o destino dessa criança não foi acompanhado. Sabe por quê? Porque ela morreu no dia seguinte à operação. Não existe fazer um procedimento assim.”

A auditoria não fez um parecer conclusivo a respeito da disputa pelo fígado em Bonsucesso. “Não tem uma linha sobre o caso porque a situação é desmoralizante, mostra a irresponsabilidade e a ânsia de me atingirem”, disse o médico.

O transplante de Jaime Ariston foi levado ao Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro. Em sua defesa, Ribeiro anexou ao processo fotos da procuradora Mônica de Ré abraçada ao diretor do Hospital de Bonsucesso, durante um seminário sobre transplantes. Dias depois, ela se afastou do caso por razões de “foro íntimo”.
Após dois anos de depoimentos e análises, as acusações a Ribeiro foram julgadas improcedentes por 21 votos a zero. Ribeiro saiu do julgamento vitorioso, mas com a certeza de que a sua relação com o Ministério Público tinha se deteriorado.(Revista Piauí - outubro de 2008)

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