domingo, 10 de agosto de 2008

"O Silêncio dos Inocentes" - Ombudsman da Folha de S. Paulo

Sempre fomos leitores da coluna do Ombudsman, mas, hoje, para nós, ficou mais claro do que nunca a necessidade de sua presença nos jornais. Muitos desses jornais, nos deixam ficar brincando de fazer comentários em suas páginas online e não publicam nossas cartas no jornal impresso. Somos, muitas vezes, expostos às maiores grosserias, com "comentaristas" zombando de pessoas em situação extremamente grave. Nossos comentários não tem efeito nenhum na reportagem. Nossas perguntas à redação são, quase sempre, ignoradas. O ombudsman é alguém a quem podemos recorrer para que, ao menos, se possa defender abertamente algumas questões como o direito à dúvida, ao contraditório e ao próprio levantamento público de questões éticas e profissionais que envolvem a prática jornalística.

Como outros grandes cirurgiões hepáticos (e cidadãos), o Dr. Joaquim deve responder a tudo o que lhe é solicitado pela Justiça. Para seus acusadores e demais responsáveis pela Saúde Pública no Rio de Janeiro, desejamos os mesmos direitos e o mesmo interesse por parte da Justiça, do Ministério Público, da Polícia Federal e... da imprensa.
O leitor-cidadão agradece
.

Comitê de Apoio do Dr. Joaquim Ribeiro
Transplante é vida! Blog de apoio ao Dr. Joaquim Ribeiro
http://transplantevida.blogspot.com



COLUNA DO OMBUDSMAN DA FOLHA DE S. PAULO - CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
10/08/2008



O Silêncio dos Inocentes


O efeito sobre a pessoa comum vítima da atenção jornalística pode ser devastador, em especial quando é acusada de crimes ou contravenções


O ENORME poder que se atribui à mídia (mas que ela de fato não tem) de provocar mudanças na ordem política e social, é subdimensionado onde realmente existe, na esfera da vida privada.
Os efeitos sobre a pessoa comum vítima da atenção jornalística podem ser devastadores, em especial quando ela é acusada de crimes, contravenções ou malfeitorias.
A súbita notoriedade negativa abala o espírito, humilha os familiares, cria desconfianças, atrapalha negócios e relacionamentos, pode destruir o caráter e até levar ao suicídio, como se viu na semana passada no episódio do cientista americano suspeito de responsabilidade pelos ataques com antraz em 2001.

A presunção de inocência, uma das grandes conquistas da civilização, às vezes cai em baixa por conta da ansiedade coletiva e catártica de exigir punição imediata a bodes expiatórios.

E a imprensa várias vezes entra como acelerador de processos que freqüentemente resultam em injustiças terríveis. Alfred Dreyfus, na França, e quatro anarquistas italianos em Chicago, no final do século 19, foram injustamente condenados com grande participação de jornais que insuflavam argumentos políticos do agrado de leitores.

Há muitos exemplos recentes: o cientista Wen Ho Lee, acusado em 1999 de espionagem nos EUA com apoio de amplas e errôneas reportagens, os pais da garota JonBenet Ramsey, infernizados por suspeitas de a terem matado veiculadas pelas mídia; muitos dos 218 condenados, vários à morte, que desde 1989 foram libertados nos EUA graças a exames de DNA.
No Brasil, são tristemente célebres os episódios da Escola Base, do ex-ministro Alcenir Guerra, do ex-deputado Ibsen Pinheiro. Outra situação de provável injustiça pode ter ocorrido contra moradores de uma comunidade naturista no Rio Grande do Sul, acusados de pedofilia.

Aqui, a dependência da imprensa em relação ao Ministério Público e às polícias, mais o desejo de parte da sociedade em ver punições exemplares, tem levado a conclusões apressadas que, mesmo quando se confirmam equivocadas, têm conseqüências de difícil reparação.
Podemos estar diante de outro exemplo desse tipo. O médico Joaquim Ribeiro Filho, cujo nome nem eu nem a maioria absoluta dos leitores jamais havia ouvido ou lido antes, foi preso em 30 de julho pela PF, sob a acusação de manipular a lista de transplantes de fígado no Rio e desviar órgãos para fazer cirurgias em clínicas particulares.


A acusação se refere a apenas dois casos desde 2003. Num deles, o médico foi absolvido por unanimidade pelo Conselho Regional de Medicina; no outro, o transplante foi feito por meio de ordem judicial, o que não prova que seja inocente.
A Folha registrou o lado de Ribeiro Filho. Mas poderia ir além do pingue-pongue entre acusação e defesa. Deveria ver como funciona a fila dos transplantes, checar custos, entrevistar pacientes do médico, ouvir colegas, investigar as denúncias, recuperar o processo do CRM em que ele foi absolvido e as investigações feitas no segundo caso, contar a complexa história do jogo de poder no hospital em que trabalhava. Enfim, fazer jornalismo.

[O Comitê lembra, ainda, o caso de Antonio Carlos Hummel- diretor de Florestas do Ibama - preso pela PF na operação Curupira também sem ter sido ouvido-
Ver coluna de
Elio Gaspari (22/06/2005) para O Globo: Ser direito dá cadeia.]

(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsma/om1008200801.htm)

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