Por que a reportagem da Revista Época de 04/08/2008 omitiu o nome do Dr. Joaquim Ribeiro Filho dessa história, recontada naquela edição?
Reportagem: Fantástico (11/12/2005)
O bebê Arthur
O Fantástico mostra um novo capítulo na dramática história de um bebê chamado Arthur. No domingo passado, você viu como essa história começou: Arthur nasceu há um mês com um problema no coração. Só escaparia se fizesse um transplante.
Do lado de fora de um hospital do Rio, o pai de Arthur luta contra o tempo. Lá dentro, na UTI, Arthur dorme. De vez em quando, abre os olhos e emociona os pais. Para Beatriz e Rafael, foi mais uma semana de angústia.
Quarta-feira. Finalmente aparece um casal disposto a doar o coração do filho, que nasceu sem cérebro, um bebê anencéfalo. A família doadora pede sigilo. Começa então uma luta contra o tempo e uma luta para enfrentar um problema na lei dos transplantes.
O Fantástico mostrou no domingo passado: a lei só permite a retirada dos órgãos depois do diagnóstico de morte encefálica, a morte cerebral. Mas como comprovar a morte cerebral de um bebê que nasce sem cérebro? Um bebê anencéfalo pode ser doador?
A vida do pequeno Arthur está diante de um impasse. O coordenador do Rio Transplantes, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, Joaquim Ribeiro Filho, toma uma decisão.
"Estou assumindo a responsabilidade de fazer essa disponibilização, ou seja, a autorização para a retirada desses órgãos no Rio de Janeiro, respaldado pela resolução do Conselho Federal de Medicina, que esta em vigência desde o ano passado”, fala ele.
A resolução do conselho é clara: com autorização dos pais, os médicos podem fazer o transplante de órgãos do bebê anencéfalo. Mas os médicos continuam divididos, mesmo dentro do Ministério da Saúde.
Em posição totalmente contrária à do doutor Joaquim Ribeiro Filho, em Brasília o responsável pelo Sistema Nacional de Transplantes diz que não se podem retirar órgãos de bebês anencéfalos.
“Nós temos um ser vivo que nasce com uma declaração de nascido vivo. Quando seu coração parar de bater em alguns dias ou semanas, não se sabe, teremos uma declaração de óbito. Portanto, nesse meio tempo, ele é considerado um ser vivo, um ser humano vivo, um cidadão. O anencéfalo respira, mama e chora”, diz Roberto Schlindwein, da coordenação do Sistema Nacional de Transplantes.
A essa altura, o chefe do setor de transplantes de crianças do Instituto do Coração, o Incor, Miguel Barbero Macial, já está no Rio. Se a operação for autorizada, ela será feita em São Paulo. Mas o médico do Incor também tem dúvidas
"O Rio, com licença de Brasília, vai dizer se podem tirar o coração. Mas nós estamos preocupados em saber se devemos tirar o coração, se realmente com a anuência do Rio e de Brasília, nós estamos dentro da lei. Será que estamos dentro da lei?”, avalia Miguel Macial.
A Igreja Católica não tem dúvida. Em uma declaração, o padre Jesus Hortal, reitor da PUC do Rio, diz: “Não podemos aprovar a morte direta de uma pessoa inocente para salvar uma outra. Quem age assim pode e deve ser acusado de homicídio".
O pai de Arthur continua lutando contra o tempo e parece chegar ao próprio limite. “Ontem apareceu um impedimento que dizia que o Rio não passou para Brasília. O Rio passou tudo que é possível passar para Brasília. Aí, aparece alguém em Brasília, dizendo que falta um anexo”, conta ele.
Sexta-feira. O Ministério da Saúde, contrariando a posição do coordenador do Sistema Nacional de Transplantes, na véspera, decide autorizar a doação do bebê anencéfalo do Rio. "Então, para nós, o importante era ter a segurança de que havia uma base jurídica legal e moral para autorizar o transplante. Onde nos encontramos essa base? Na resolução do Conselho Federal de Medicina do ano passado, que foi feita com essa finalidade”, explica Amâncio Carvalho, diretor do Ministério da Saúde. [justamente a fonte indicada pelo Dr. Joaquim Ribeiro Filho]
Os pais de Arthur chegam a comemorar a decisão e a doutora Rosa Célia, que acompanha o bebê, acredita que a cirurgia é questão de horas. “Amanhã deve acontecer", ela diz.
Logo depois, a esperança se desfaz. O bebê doador é bem menor que Arthur. O coraçãozinho dele não agüentaria a diferença de pesos. O pequeno Arthur vai ter que esperar mais um pouco. O tempo é um inimigo.
Mas surgiu uma nova possibilidade. Em Praia Grande, estado de São Paulo, uma mulher que vai ter um bebê anencéfalo quer ajudar Arthur. “Sendo útil para uma criança salvar alguém, eu até gostaria, seria até melhor ajudar. É bom ver o coração do meu filho ajudando outro bebezinho a tornar uma vida saudável”, diz Daniele Cianchetta.
“Quanto mais ele cresce, mais difícil fica conseguir um doador, então vamos dar continuidade a esse processo de forma urgente”, pede o pai do bebê.
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