sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Esse caso não é o primeiro. O que se aprende com os erros?

A escola inocente
25/01/2003
EDUARDO RIBEIRO

Divulgado originalmente em 20/11/2002 – Comunique-se (www.comunique-se.com.br)

O caso da Escola de Base entrou para a história como um dos mais grosseiros e sérios erros do jornalismo brasileiro de todos os tempos. Foi uma das mais irresponsáveis e levianas coberturas que este País já viu, com imprensa e polícia se arvorando o papel de Justiça. Passaram-se já oito anos do famigerado episódio e nunca mais os professores Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada e Maurício Alvarenga foram os mesmos.

Linchados moralmente (e quase fisicamente) por jornais, revistas, emissoras de rádio e tevê - e pela população que acreditou naquelas deslavadas mentiras divulgadas - pouco lhes restou a não ser a dignidade e a determinação de reparar suas reputações e retomar o curso da vida. Foram à Justiça e esta lhes deu ganho de causa em todas as instâncias. E a vitória maior acaba de ser conquistada no Superior Tribunal de Justiça, que manteve a condenação da Fazenda do Estado de São Paulo a pagar aos professores indenização por dano moral, e ainda elevou a quantia - inicialmente arbitrada em R$ 100 mil - para R$ 250 mil para cada um dos três donos da Escola de Educação Infantil Base. Detalhe: não cabe recurso da decisão.

Nunca é demais lembrar que em 1994 a escola foi depredada depois que a imprensa divulgou falsa acusação de abusos sexuais contra crianças. Em março daquele ano, o delegado Edélcio Lemos foi à tevê e confirmou a violência sexual, consolidando o processo de linchamento moral dos donos da escola, com o conseqüente fechamento da escola.

O caso Escola Base é emblemático de um erro - um grave erro - de apuração da imprensa. José Aparecido Miguel, na época na Coordenadoria de Comunicação do Governo do Estado de São Paulo, recorda que a ânsia de divulgação e de exposição à mídia do delegado Edélcio Lemos somente foi contida diante da ação inicial da Assessoria de Imprensa do Palácio dos Bandeirantes.

Os assessores - especialmente Marcos Garcia de Oliveira (que atualmente está na revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, da Editora Globo) - já acompanhavam atentamente o assunto, observando que, a cada dia, o delegado dava novas declarações, mesmo sem a evolução das investigações. Os jornais davam manchetes sem checar adequadamente o que informavam. Garcia, então, orientado por Miguel, alertou, por intermédio da área de comunicação, a Secretaria de Segurança Pública, sobre a postura do delegado, que foi afastado em seguida, em razão das distorções que o caso continha.

O estrago, no entanto, já estava feito. E muito bem feito.
No julgamento do STJ, a ministra Eliana Calmon votou no sentido de condenar o delegado Edélcio Lemos a ressarcir os cofres públicos daquilo que for pago de indenização aos proprietários da Escola, já que, afinal, foi ele o principal protagonista (ou porta-voz) da farsa armada.


A juíza, com propriedade e bom senso, afirmou que não foi a veiculação do assunto pela imprensa e sim a conduta "irresponsável" do delegado, mediante "acusações levianas", que levou os proprietários a serem repudiados e quase linchados pela população, perdendo não só a honra, mas o estabelecimento de ensino. E, nesse ponto, a decisão do STJ foi unânime.
Muitos casos de dano moral se sucederam à Escola de Base, na imprensa brasileira, nenhum, no entanto, tão grave quanto esse. Menos mal que tenha servido de lição.

Em caso de grave denúncia contra a honra de quem quer que seja só mesmo a prudência, o bom senso e a razoabilidade no tratamento do tema. Fora disso é sensacionalismo. E sensacionalismo barato. Um barato que por vezes custa o patrimônio de toda uma vida: a honra de uma pessoa.
(http://www.brasilnews.com.br/NewsNextdd.php3?CodReg=13708&edit=&CodNext=999)

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