"Esse episódio certamente se constituirá em divisor de águas na definição da ética médica. E seria profundamente saudável se permitisse à imprensa reavaliar suas relações com as fontes e a maneira de abordar temas técnicos.
Nos últimos anos, está acontecendo com a medicina e com a odontologia proceso semelhante ao que ocorreu com advogados e economistas: por meio de esquemas de assessoria de imprensa,médicos valem-se do pouco conhecimento técnico da mídia para se 'venderem' ao público leigo.
Cria-se uma mistura explosiva de intereses da mídia por sensacionalismo, e desses profissionais por notoriedade. [observação nossa: não sabemos se Luís Nassif aceitaria aqui a inclusão de delegados da Polícia Federal e procuradores do Ministério Público Federal]
(...)
Desvirtua-se o conceito de reputação médica, e ludibria-se a boa-fé dos consumidores. Antes as reputações médicas eram forjadas junto aos demais médicos. Para angariar respeito da comunidade médica, médico não deveria se expor à mídia em shows inconseqüentes. Assim, as reputações eram construídas lentamente, porém com segurança.
Poucos conhecem o professor Sérgio de Oliveira. Há mais de 15 anos é o mais renomado especialista em operações de ponte de safena. O renome foi testado junto aos próprios colegas, porque porvavelmente jamais deu uma entrevista na vida.
Hoje um repórter, sem conhecimento técnico, que avalia informações médicas apenas dentro do conceito jornalístico - o que é ou não é notícia - pode ser manipulado, e se transformar em instrumento de consagração ou de liquidação de reputações."
(Luís Nassif. O jornalismo dos anos 90 p. 147)
Sobre o Dr. Ricardo Pasquini (professor-titular do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Paraná e chefe do Serviço de Hematologia e Oncologia do Hospital de Clínicas da universidade Federal do Paraná:
"Qual o final desse falso escândalo? O doutor Pasquini responde:
'Durante a preparação da matéria, fornecemos amplos e irrestritos esclarecimentos à reporter do programa, os quais, infelizmente, não a sensibilizaram.
Essa omissão é especialmente lamentável pelo fato de que a equivocada matéria do 'Fantástico' provocou um clima de confusão e desconfiança entre os mais de 60 candidatos a transplantes entre não-aparentados e seus familiares, que foram levados a crer que estavam sendo vítimas de um processo de extorsão, quando tudo o que o STMO e esta associação buscavam era viabilizar a realização de um processo clínico capaz de salvar suas vidas e as de seus parentes queridos."
Luís Nassif. O jornalismo dos anos 90 p. 151
Ver: Regina Abreu. Não é só mau jornalismo, não!
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