A GUERRA DOS TRANSPLANTES E O PONTO DE VISTA DA REDE RECORD
Ontem, dia 29 de agosto, fomos surpreendidos com "mais uma grave acusação" ao Dr Joaquim Ribeiro Filho levada ao ar no telejornal da Rede Record. Trazendo um relato de um paciente que pretensamente teria sido iludido por Dr Joaquim, a matéria traz um tom melodramático, tentando mais uma vez convencer a opinião pública da falta de caráter do Dr Joaquim.
Alguns membros do comitê de apoio ao Dr Joaquim que conhecem a dignidade deste médico e servidor público exemplar atribuíram aos equívocos da reportagem a falta de seriedade jornalística. Tenho uma opinião um pouco diferente.
Não se trata de "mau" jornalismo. Pelo contrário. Trata-se de uma perspectiva construída a partir de interesses e objetivos definidos.
Para entender o ponto de visa da Rede Record, devemos refletir sobre o conjunto das reportagens como uma narrativa articulada.
Se entrarmos na página da Record e clicarmos na busca a palavra 'transplantes', vemos que há uma sucessão de matérias muito bem sincronizadas. A primeira do início de julho diz que o hospital do Fundão está decadente e que, lá, foram suspensos os transplantes. A segunda e a terceira matérias dizem que cresceram os transplantes no país e citam os casos de Minas Gerais e de Santa Catarina como exemplares. Dizem que
nestes estados tudo funciona, q a fila é uma beleza, todos respeitando as regras, o melhor dos mundos.
A matéria seguinte é bombástica: mostra a prisão do Dr Joaquim sob a acusação de furar a fila dos transplantes para beneficiar o filho do ex-governador de Pernambuco.
Diz que o Dr Joaquim era o chefe de uma quadrilha que ganhava até 200 mil por transplante.
As outras matérias que se seguem durante todo o mês de julho e início de agosto incrementam esta acusação e mostram o Dr Joaquim sendo investigado e, no entender do editor da Record, sem conseguir dar resposta adequada às acusações.
Chegam a falar que parentes e amigos montaram um blog em defesa do Dr. Joaquim, mas propositalmente não mostram a manifestação dos pacientes no hospital do Fundão em defesa do Dr Joaquim. Também não mostram que a paciente Lilia de 23 anos, que, na primeira reportagem estava desesperada na fila dos transplantes, diante do hospital do Fundão totalmente sucateado, foi ainda durante o mês de julho transplantada pelo Dr. Joaquim.
Enfim, as matérias não são processuais, não trabalham com a memória e a pesquisa entre um acontecimento e outro. Mas, tudo é proposital, articulado, pois a matéria seguinte, a que foi exibida ontem, dia 29 de agosto, conta a história de um paciente que supostamente teria sido mais uma vítima do Dr Joaquim.
"Iludido" pelo médico e seu sócio, o paciente teria sido salvo graças à reorganização da fila após o afastamento do Dr Joaquim. Ou seja: do início de julho até o final de agosto, durante dois meses, portanto, estas matérias foram construídas com o objetivo de detonar o dr Joaquim e sua equipe.
Começando com o sucateamento do Hospital do Fundão, passando pela desorganização da fila pelos supostos "desvios de órgãos pelo Dr. Joaquim e sua equipe" e terminando no final de agosto com a pretensa vitória da fila reorganizada no Hospital do Fundão e o transplante de um doente que teria sido "iludido pelo dr Joaquim e seu sócio".
O que a rede Record quer provar? Onde ela quer chegar?
É bom que fique claro: não somos ingênuos! Como o jornalismo funciona hoje em dia? Há um verdadeiro exército de assessores de imprensa, trabalhando nos bastidores dos jornais para defender seus clientes.
É sintomático que a rede Record esteja se posicionando no lugar do acusador do Dr Joaquim. Aliás, é sintomático que a última reportagem termine exatamente com o advogado de acusação do Dr Joaquim, o Procurador da República Marcelo como o grande bastião da Justiça e da Democratização da fila dos transplantes.
Quem está por trás desta reportagem?
Quais foram as assessorias de imprensa que a pautaram?
Por que a Record comprou a pauta posicionando-se do lado do acusador do Dr. Joaquim? E por que outras redes de jornalismo não "compraram" esta pauta?
Para quem interessa manter viva a guerra dos transplantes e queimar o Dr Joaquim? Por que o bom e competente jornalismo da rede Record não quis entrevistar as quase quinhentas pessoas que foram transpantadas e salvas pelo Dr Joaquim e que o defendem publicamente?
Por que o bom e competente jornalismo da Rede Record não tira a máscara e mostra quem está por trás de tão sofisticada construção discursiva e midiática?
Para quem, como eu, viveu o período da ditadura militar e aprendeu a ler nas entrelinhas, nos silêncios e nas montagens da imprensa, não é possível mais conviver com tanta hipocrisia.
E aí, vocês já pararam prá pensar sobre qual são os rostos daqueles que estão trabalhando profissionalmente desde 2003 (com direito a assessorias de imprensa e
jurídica) para ver o dr Joaquim atrás das grades e todo o seu trabalho de salvar vidas desmontado ?
Vocês já pararam para analisar que um trabalho jornalístico ou de advocacia pode estar a serviço de quem faz carreira acusando e derrubando os outros?
Regina Abreu, socióloga, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
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