sexta-feira, 24 de abril de 2009

Para conhecimento do Dr. Dráuzio Varella e sua série sobre transplantes.

Por que uma proposta (comissões intra-hospitalares)que já era defendida em 2004 aparece em matérias de revistas e de televisão como se fosse uma informação nova e esclarecedora sobre o problema dos transplantes no Brasil?
Aqueles que brigam constantemente pela melhoria do transplante foram simplesmente ignorados (quando não, perseguidos). As comissões intra-hospitalares foram desmanteladas na gestão do atual secretário de saúde, Sérgio Côrtes, no Rio de Janeiro. Com certeza, o Dr. Dráuzio Varella não vai tocar nesse assunto.
Campanhas como esta, proposta pelo Dr. Dráuzio Varella são bem intencionadas, mas não servem para nada se pessoas competentes e com vontade política não estiverem à frente do sistema de transplante nos Estados.

Jornal do Brasil de 06/04/2004
Doar órgãos, um ato de solidariedade
Joaquim Ribeiro Filho *

O Brasil acompanhou a recuperação do ator Norton Nascimento, graças a um bem-sucedido transplante cardíaco realizado em regime de urgência no fim do ano passado, na cidade de São Paulo, com um coração proveniente do Rio de Janeiro.

Houve um eficiente entrosamento entre a central de captação do Rio de Janeiro, a central nacional, em Brasília, e a de São Paulo, disponibilizando um coração que não seria utilizado no Rio de Janeiro, de um doador perfeitamente compatível com Norton em tamanho e grupo sangüíneo, e que chegou ao Hospital da Beneficência Portuguesa a tempo de ser implantado com sucesso.

Houve a solidariedade da família de um jovem médico, morto em acidente automobilístico a caminho do trabalho, que não hesitou em autorizar a doação de órgãos e de tecidos, propiciando vida a vários pacientes ins
critos em diversas listas: coração, fígado, rins, pulmão, pele, osso e córneas.

Atualmente, no Brasil, cerca de 58 mil pessoas aguardam por uma doação. Apesar de sermos o segundo ou terceiro país em números absolutos de transplantes realizados no mundo, ainda estamos longe de atingir os índices de doação de órgãos observados na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, de pelo menos 10 doadores por milhão de habitantes ao ano. Ficamos, em média, em 4,5 por milhão de habitante ao ano, contra até 30 em algumas regiões da Península Ibérica.

A divulgação ampla da recuperação do ator Norton Nascimento vem sensibilizando corações e mentes em diversas partes do país, com o conseqüente aumento desta atividade. Campanhas publicitárias, inserções do assunto em novelas, enredos de escola de samba - caso da Mocidade Independente de Padre Miguel, no carnaval passado - e qualquer divulgação positiva aumentam, significativamente, o número de doações de múltiplos órgãos e tecidos.

No entanto, é preciso sensibilizar o médico que trabalha em unidades de terapia intensiva e nas emergências para o fato de que um paciente que evolui para morte cerebral poderá salvar outros pacientes. A manutenção de um potencial doador é trabalhosa e requer medidas para garantir os possíveis órgãos e tecidos em condições de serem transplantados. O protocolo estabelecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) impõe a realização de dois exames por médicos não envolvidos com programas de transplante de órgãos, sendo pelo menos um neurologista, e um exame que demonstre a ausência de fluxo ou de atividade ou de metabolismo cerebral, como o eletroencefalograma, arteriografia ou ultra-som transcraniano.

O protocolo diferencia, com absoluta segurança, morte cerebral de coma profundo, não podendo ser utilizado em pacientes que estejam com temperatura baixa ou em uso de medicamentos depressores do sistema nervoso central, o que pode dificultar o diagnóstico correto. O coma profundo é reversível. Pacientes em morte cerebral, contudo, jamais foram revertidos e evoluem para parada cardíaca, ao fim de três a quatro dias nesta condição.

No Rio de Janeiro, o Programa Rio Transplante está sendo descentralizado, com a formação de coordenações intra-hospitalares de captação de órgãos, iniciando-se por hospitais com Serviços de Emergência e nos quais trabalham médicos e enfermeiros capacitados para valorizar potenciais doadores, treinados na abordagem correta dos familiares, conhecimentos adquiridos com educação continuada.

O processo está sendo regionalizado. Nas regiões Norte e Noroeste observa-se atividade importante de transplantes renal e de córneas, o que será estendido às demais áreas do Estado. É importante ressaltar que a decisão de doar órgãos e tecidos é da família, que perde um ente querido mas que, ao decidir-se pelo gesto humanitário da doação, poderá salvar a vida de muitas pessoas.

* Coordenador do programa Rio Transplante e do Programa de Transplante Hepático do Hospital do Fundão

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