sexta-feira, 3 de abril de 2009

De monstros e médicos: essa vai para você!

Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.
(Chico Buarque- Apesar de você)

Do blog da Dani (Dr. Joaquim Ribeiro - a saga continua)
Um dia antes da notícia da absolvição nos jornais e um dia antes da absurda manchete do G1 e de O Globo online. Parece que ela estava advinhando.
Ver: G1 e Globo online: Eles não noticiam a absolvição, mas um POSSÍVEL pedido de anulação da absolvição. é demais!
Segue o post:

Muitos aqui vão lembrar da história do Dr. Joaquim Ribeiro, o médico que salvou a minha vida duas vezes e que, vítima de perseguição política, em julho do ano passado saiu da própria casa algemado, fato que foi parar na primeira página dos jornais, já que por “coincidência” a imprensa inteira aguardava do lado de fora da casa dele. O engraçado é que ele mora numa rua residencial num bairro bem tranquilo do Rio. O que a imprensa fazia lá no meio do dia ninguém sabe explicar, a menos é claro, que alguém acredite que alguém da Polícia Federal possa ter vazado a informação para os repórteres. Mas peraí, isto é no mínimo anti-ético, ou não? Não bastava prender um homem de bem, médico conceituado, tinham que invadir a sua casa e humilhá-lo publicamente na primeira página dos jornais.

Passados mais de seis meses, a luta do Dr. Joaquim para provar sua inocência e exercer sua profissão continua, mas seus inimigos são incasáveis e perversos demais. O que estas pessoas esquecem é que ao tentar destruir a reputação do Dr. Joaquim, algo que jamais vão conseguir, levam com eles vidas humanas. Será que eles conseguem dormir tranquilos? Como podem deixar que a inveja e a vaidade os tornem tão cegos e cruéis?

Não sei ao certo quantos pacientes foram perdidos durante esta perseguição infeliz, mas nunca vou esquecer uma das vítimas, que me era muito querida. O nome dela era Thalita, tinha 28 anos e terminava o mestrado na Uni-Rio. Era inteligente, determinada, gostava de viajar e tinha milhões de amigos. No começo do ano passado, reclamando de dores fortes no abdomen, foi ao hospital. Não foi a primeira vez, mas até então os médicos achavam que o mal estar poderia estar relacionado ao stress. Até que finalmente durante uma tomografia, descobriram uma massa enorme no fígado dela. Sim, era um hepatocarcinoma. De lá, ela foi encaminhada ao INCA onde foi tratada durante alguns meses.

Quando a minha amiga Cris me contou a história, eu que não sou médica, me perguntei imediatamente por que ela ainda não havia sido operada. A Cris nos colocou em contato e passamos a nos falar por telefone e email. Eu insistia para que a Thalita visse o Dr. Joaquim o mais rápido possível. Ela dizia que confiava no médico dela e que não tinha plano de saúde. Eu garantia a ela que o Dr. Joaquim não lhe cobraria a consulta, pois conheço muito bem o meu médico.

Os meses foram passando e a operação nunca acontecia. A Thalita foi ficando ansiosa. Até que em julho, durante a minha visita ao Rio, ela me ligou e me pediu para ver meu médico. Liguei para o Dr. Joaquim na mesma hora e marcamos a consulta para o dia seguinte.

Naquela manhã ensolarada de julho vi a minha amiga Thalita pela primeira e pela última vez. A consulta foi difícil, pois a doença já estava em estágio bem avançado e a aparência dela denunciava a gravidade da situação. Durante a consulta, o médico explicou que ela não teria outra alternativa que não fosse a cirurgia. Disse a ela que haveria riscos durante o procedimento, mas foi bem claro ao dizer que sem a cirurgia ela não teria chance alguma.

Quando a Thalita disse que não tinha plano de saúde, o Dr. Joaquim na mesma hora disse “Não tem problema. Eu dou um jeito. Provavelmente por questões políticas não vou conseguir operar você no Fundão, mas vou ver outro lugar. Pode ficar tranquila; ligo para você nos próximos dias.”

Uns dias se passaram e o Dr. Joaquim finalmente conseguiu um hospital e uma equipe para operar a Thalita de graça. Estava tudo encaminhado e a cirurgia aconteceria dentro de pouquíssimo tempo. O que ninguém poderia imaginar é que um ou dos dias antes da data marcada, o Dr. Joaquim fosse sair algemado de casa e que fosse ficar preso durante algumas semanas, semanas que a Thalita não tinha!

Aquela cena me abalou demais. Me revolta até hoje. Sinto profundamente pelo Dr. Joaquim e por sua família. Uma enorme injustiça com um homem que construiu uma reputação invejável (e invejada por muitos!) a custa de muito sacrifício e dedicação. Mas lá no fundo, o que mais me preocupou foi a situação da Thalita. Dali para frente, passei a temer pelo pior.

Eu e a minha família conhecemos bem o Dr. Joaquim e jamais tivemos dúvida do caráter e da competência dele. (Até hoje agradeço a Deus por ter encontrado o tumor seis meses antes de toda esta confusão.) Como a Thalita não podia esperar, foi encaminhada a outro hospital no Rio, onde infelizmente a equipe médica não tem nem a ética nem a competência do Dr. Joaquim. Em vez de realizarem a cirurgia o quanto antes – pois ela seria a única esperança da Thalita – ficaram mais preocupados em caluniar o Dr. Joaquim do que cuidar da paciente. Num português claro, colocaram uma moça de 28 anos com um tumor enorme em banho maria, adiando por uns meses a morte dela. Prometeram que iam ajudá-la, que o caso dela era de transplante, mas nada fizeram. E mais meses se passaram...

No final de setembro, trocamos a última mensagem por email e ela disse que os médicos teriam uma definição até o dia 15 de outubro. Outubro veio mas a definição não... A Thalita me mandou um recado no Orkut já demonstrando cansaço e temendo pelo pior.

Dois meses, depois meu telefone tocou. Era a Cristina. Ela estava emocionada e foi logo dizendo “Infelizmente não deu, Dani. A Thalita se foi. Ela foi tranquila e conformada. A família dela também está serena. Cumpriu sua missão aqui. Agora o sofrimento acabou.” Fiquei em silência por uns segundos. Era a confirmação do meu pior pressentimento. Sabia que o caso era grave, mas no fundo esperava por algum milagre que não aconteceu.

Eu sei que o sofrimento acabou e que a Thalita está agora junto ao Pai. Ela nunca teve dúvida disto, o que me conforta. Eu sei que todos temos a nossa hora, que a vontade de Deus prevalece sempre, mas fica uma pontinha de dúvida lá no fundo que incomoda e que volta e meia me pergunta “Será que se ela tivesse a mesma chance que eu tive de ser operada pelo Dr. Joaquim, esta história teria um final diferente?”

Jamais terei a resposta, mas o único alento que tenho é de que fiz o possível para ajudá-la e isto me deixa mais tranquila. Mas e quanto àqueles monstros, que por inveja insistem em perseguir o Dr. Joaquim e impedir que ele salve outros pacientes? Como eles conseguem dormir à noite? Como eles conseguem ter paz sabendo o tanto de sangue que tem em suas mãos? Ao meu ver são assassinos, que foram no mínimo cúmplices na morte de uma jovem brilhante de 28 anos que faz uma falta absurda. E tenho quase certeza que a Thalita não foi um caso único.

A morte da Thalita me abalou demais. Eu me via muito nela. Tínhamos a mesma idade quando adoecemos, filhas mais velhas, mesmo número de irmãos, mesmas idades, até o nome do pai dela é o mesmo do meu. A grande diferença também foi a maior crueldade: eu tive uma chance; a Thalita não.

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