quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O que você não sabia sobre os transplantes, mas nunca teve coragem de perguntar? (De blog em blog)

Comentários de "BN" de 03/08/2008, encontrados no Blog De tudo, um pouco
BN não tinha conhecimento, ainda, da situação atual da lista de transplantes no Rio transplante.
BN disse...

OPERAÇÃO FURA-FILA


No momento em que nos assumimos formadores de opinião, no mínimo devemos prezar pela idoneidade de nossas informações, assim como o compromisso com a verdade, em sua totalidade. Para isso, associo alguns dados relevantes e de acesso público.

Nos últimos anos, o país vem apresentando desenvolvimento crescente no setor transplante. No ano de 2005, foram realizados 15.527 transplantes de órgãos e tecidos. Esse número é 18,3% maior que em 2003, quando ocorreram 13.131 procedimentos, e 36,6% maior em relação a 2002, com 11.365 procedimentos de transplantes.

Este crescimento é conseqüência da conscientização da população brasileira, da atuação competente de equipes e instituições autorizadas pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde e da regulação do SNT fundamentada na legislação vigente.

A lista de espera no Rio de Janeiro hoje, por um transplante de fígado, inclui 1.165 pacientes ativos, ou seja, ainda não transplantados.

Como funcionam as Centrais de Transplantes:
1. O receptor preenche uma ficha e faz exames para determinar suas características sangüíneas, da estatura física e antigênicas (o caso dos rins);
2. Os dados são organizados em um programa de computador. A ordem cronológica é usada principalmente como critério de desempate;
3. Quando aparece um órgão, ele é submetido a exames e os resultados são enviados para o computador;
4. O programa faz o cruzamento entre os dados de doador e receptor e apresenta dez opções mais compatíveis com o órgão;
5. Os dez pacientes não são identificados pelo nome para evitar favorecimento. Só suas iniciais e números são mostrados. Nesta etapa, todos os profissionais da central têm acesso ao cadastro;
6. O laboratório refaz vários exames e realiza outros novos com material armazenado desse receptor. Nesse momento, o receptor ainda não é comunicado;
7. A nova bateria de exames aponta o receptor mais compatível. Nessa etapa, o acesso ao cadastro fica restrito à chefia da central;
8. O médico do receptor é contatado para responder sobre o estado de saúde do receptor. Se ele estiver em boas condições, é o candidato a receber o novo órgão. Se não estiver bem de saúde, o processo recomeça;
9. O receptor é contatado e decide se deseja o transplante e em que hospital fará a cirurgia.


Ou seja, todo o processo é informatizado, e livre de favorecimento, visto os nomes serem preservados até a última etapa. O médico, até esta, sequer está ciente de qual será o próximo paciente a ser transplantado. Muitas vezes, realmente chega “a vez” do paciente, entretanto o mesmo encontra-se debilitado em demasia para se submeter a uma cirurgia de grande porte e risco, está fora da cidade ou até mesmo não deseja receber aquele determinado órgão. Isto porque é dado ao paciente o poder de questionar a “saúde” do órgão que lhe está sendo oferecido e optar por aguardar um pouco mais por outro que lhe pareça mais conveniente, se assim desejar.

Saúde do órgão leia-se, condições em que o mesmo se encontra. Isto é, atualmente, tem-se usado o termo “fígado marginal” para designar aquele fígado que é viável somente para um paciente em estado terminal, que se não receber um transplante, irá a óbito em curto espaço de tempo. Este tipo de fígado, por exemplo, não é colocado em um paciente com chances reais de se beneficiar de um transplante em longo prazo, a não ser é claro que o paciente deseje, visto ser a sua autonomia preponderante.

Outro fator de suma importância a ser citado, é o tempo de isquemia do órgão. Tudo deve ser muito rápido, pois o tempo entre retirar o órgão (captação) e transplantar é mínimo. Por isso, fígados e muitos outros órgãos têm sido desperdiçados, literalmente jogados no balde.

No momento em que o paciente decide e aceita ser transplantado, lhe é dado opção de escolha do local onde deseja ser operado. Isto não acontece no caso de um paciente SUS, que realmente não tem opção de local, embora a equipe seja a mesma, com os mesmos profissionais qualificados, de alva idoneidade e portadores de inscrição no Conselho médico local.

E, a caráter de esclarecimento aos colegas não médicos, quando um paciente é atendido em caráter particular, conscientemente ele arca com os custos do procedimento – neste caso o transplante - necessariamente paga a Casa de Saúde, assim como os honorários médicos e anestésicos da equipe que está prestando o serviço. Não existe vou pagar o médico “por fora” e o restante o SUS faz. Da mesma forma que não existe vou fazer os exames pelo SUS para depois ser operado pelo meu médico particular. Até porque quem tem a condição de fazer particular jamais irá dormir em uma fila de posto de saúde para pegar uma senha, para esperar ser chamado, para esperar, esperar e esperar... Isto não é ilícito a quem possui essa condição, tampouco é demérito ao cidadão financeiramente menos favorecido e que realmente necessita do SUS.

“A saúde é um dever do estado e um direito de todos” – Premissa básica do SUS. Mas, será que esta está sendo cumprida? E, se não está, e por ser uma lei, onde está o responsável? Preso inicialmente na Polícia Federal (Polinter) e em seguida em Bangu 8, dividindo a cela com o Salvatore Cacciola, como Dr. Joaquim? Certamente não. Fica o questionamento.


Anexo a seguir uma entrevista do paciente Carlos Augusto Arraes.

"Operação Fura-Fila: empresário diz que não pagou por fígado”
Monique Cardoso, Jornal do Brasil - [21:53] - 02/08/2008

RIO - Operado por médico preso, Arraes nega ter furado a fila.

Com indignação e tristeza. Assim o empresário Carlos Augusto Arraes disse ver a prisão do médico Joaquim Ribeiro Filho, que realizou seu transplante de fígado em 18 de julho de 2007. Filho do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005), Carlos Augusto afirmou ontem que não pagou pelo órgão, nem furou a fila.
Acompanhado dos irmãos José Augusto e Guel Arraes, cineasta e diretor de TV, o empresário reiterou que O FÍGADO SERIA PERDIDO POR FALTA DE CONDIÇÕES DE LOGÍSTICA POR PARTE DO SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTE e explicou como sua família providenciou o transporte do órgão de Minas Gerais para o Rio em um avião particular.
O empresário, portador de hepatite C, morreria em seis meses se não fosse operado.
– GANHAMOS NA JUSTIÇA UMA LIMINAR (expedida por um juiz de Pernambuco) que determinava a urgência do transplante, mas não foi preciso utilizá-la. No mesmo dia, O SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTES INFORMOU QUE HAVIA UM ÓRGÃO DISPONÍVEL, MAS QUE NÃO TINHA MEIOS DE BUSCÁ-LO por causa do acidente aéreo da TAM. O que o doutor Joaquim fez foi informar que tinha um paciente com recursos para realizar o transporte – contou.
O médico Joaquim Ribeiro Filho está preso em Bangu 8 desde a última quarta-feira, acusado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal de venda de órgãos e de não respeitar a fila para transplante.
Carlos Augusto informou que pagou R$ 90 mil em cheque, mediante recibo, pelos honorários do médico e de toda a sua equipe e que os custos da internação, estimados em R$ 120 mil, foram pagos por seu plano de saúde.


(...)

É triste perceber que atualmente muitas brigas políticas acontecem, e os desfavorecidos só permanecem ainda mais desassistidos.

A equipe do transplante recebe uma bolsa mensal de R$ 1500,oo para cada integrante, e teoricamente, deveria receber um extra a cada transplante. O médico "ganha" em torno de 1mil e poucos reais, e os anestesistas aproximadamente 600 reais por transplante. A captação (retirada) do órgão não cobre anestesista, pode?!

Um absurdo, visto ser o que um cirurgião recebe para operar uma hérnia, por ex, que é uma cirurgia praticamente sem riscos, com duração de aproximadamente 1h. Já ao anestesista, isso ele recebe para retirada de um névos (sinal)com sedação venosa e local.

Um ultraje se for ver que a equipe em questão fica de sobreaviso 24h/dia, 30dias/mês. Com um tempo de isquemia máximo em 8horas, realmente, vc abre mão da sua vida em prol do doente. E o que se recebe em troca?
Atraso no pagamento, processo ético e criminal, questionamento da sua idoneidade como profissional. Além disso, a vergonha, de ter seu rosto estampado como "formador de quadrilha".

Esta equipe, por exemplo, ainda não recebeu os últimos 57 transplantes feitos pelo SUS... E sequer parou de transplantar. Complicado? E muito... Justiça? Espero que seja feita, seja ela qual for, desde que realmente seja justa.


O próprio Dr. Camargo (chefe dos transplantes em Porto Alegre - RS) se posicionou com indignação, visto também concordar com a fragilidade do sistema em proteger, mas não em acusar. Segundo ele, é impossível furar a fila, visto estarem muitas pessoas envolvidas, seria praticamente surreal se esta proeza fosse conseguida. E levantou ainda um sábio questiomento... como ficará a credibilidade do sistema junto ao leigo? Sim, pq se acreditarmos que os fígados de nossos familiares estão sendo de fato "leiloados" não desejaremos a doação, e aí sim, está instalado o caos. Deixar somente o hospital de Bonsucesso credenciado? Engraçado, eles têm repetidos transplantes inter-vivo (particulares), na mesma Clínica São Vicente da Gávea.

Figados desperdiçados - não transplantados, equipe com seu direito para transplantar
cassado... Dr. Joaquim em Bangu 8 (é, na cela de Salvatore Cacciola!), Dr. Eduardo seu cirurgião assistente indiciado por crime de peculato e ainda com provável mandado de prisão preventiva a ser expedido nos próximos dias. Giuliano, cirurgião recém formado, responsável pela parte "disgusting" - não paga, que é a captação - tudo visando um lugar ao sol... Certamente o almejo deste quase garoto não era o de ver o sol nascer quadrado!


Boa noite, e vamos agradecer a Deus, visto que todos temos problemas, mas não dessa monta.
Abraços, e que a Justiça seja feita em sua totalidade.

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