quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Helena Maria S. M. M. Pereira

TESTEMUNHO DE CONDUTA DO DR. JOAQUIM RIBEIRO FILHO, NA VISÃO DA DRA. HELENA MAIA

Um médico/cientista não vive uma vida única, mas diversas vidas, pois, amplia sua experiência pessoal acrescentando-lhe a experiência de seus semelhantes. Vê o mundo, por assim dizer, com muito mais pares de olhos e desse modo aprende a colocar-se em contato com o próximo por meio de múltiplos acordes de solidariedade e compreensão.

Conheço e convivo com o Dr. Joaquim Ribeiro Filho desde sempre, pois, seus pais foram grandes amigos dos meus em todos os momentos, especialmente nos mais dolorosos. Fomos crianças juntos. Conheço bem sua formação religiosa, cultural e social. E, conheço sua formação cientifica.

A vida é uma janela que sempre me permitiu observar a realidade sob um ângulo diferente. Essa afirmação é particularmente aplicável ao doutor Ribeiro Filho, pois, esse assumiu o encargo de decifrar o segredo da realidade e traduzi-lo na linguagem prática da nossa vida cotidiana.

Os cientistas como ele, os pensadores e realizadores da família humana, trouxeram ao resto de nós – através de sua sabedoria superior, uma benção dupla. Demonstraram o quanto pouco importante somos. Definiram nosso lugar na natureza – um insignificante formigueiro humano que infesta uma bola de lama e pó escondida num dos mais obscuros desvãos do universo. Eis uma observação que abate nosso orgulho e ao mesmo tempo nos enaltece. Cada um de nós é apenas um mesquinho átomo do universo. Cada um de nós é ao mesmo tempo, um átomo de não mesquinho universo.

Graças aos esforços de Dr. Ribeiro Filho e sua equipe, cada um de nós pôde mediante a aplicação prática das leis da medicina e da biologia, transformar-se em um cidadão do universo mais feliz, sadio e produtivo.

E mais sensato? Por infelicidade ainda não. Os cientistas nos dão os instrumentos de cura e nós os convertemos em armas de morte. Mas a culpa é dos discípulos, não dos mestres. O coração humano é menos capaz de aprender que a mente humana. O desenvolvimento moral do ser humano tem se arrastado com muito mais lentidão que o desenvolvimento mental.

Esses os motivos das ações penais em que se viu envolvido o Dr. Joaquim Ribeiro Filho.

A causa de sua tragédia e de sua eterna glória, foi seu importante trabalho como médico e professor da UFRJ. Ali, com grande competência, iniciou a prática dos transplantes de fígado, em pacientes à espera da morte na fila do SUS.

Certamente foi assediado por candidatos a transplante de melhor condição financeira, que por essa razão mesma queriam evitar a lista/fila do SUS. Mas não o fez. Continuou trabalhando na Universidade, sem compensação financeira extraordinária. Prova disso são suas dívidas e seu padrão de vida modesto.

Mas, apesar de sua cautela, estava destinado a ser réu, pois não aceitava o que se estabeleceu chamar de forma burocrática, “de fila de ordem do SUS”. Tal conduta nas hostes burocráticas foi entendida como infamante.

E assim, para um servidor tão insubordinado, o Órgão Acusador instado por invejosos de plantão, carreiristas inconformados, “puxadores de tapete”, inescrupulosos de todos os matizes, houve por bem de submetê-lo a rigorosa investigação.

É importante ressaltar que, em todo território brasileiro, nos tempos que correm, o “Grande Irmão”, representado pelos “fiscais da lei”, e/ou Ministério Público, domina com poder ilimitado a vida e a carreira dos que não são medíocres, agindo sempre em “vigilância incansável”.

E assim foi o insubordinado Dr. Joaquim, devidamente detido, algemado e trancafiado na penitenciária, para garantia da ordem pública, etc., etc...

Para maior credibilidade mister se fazia alertar a imprensa que, por óbvio, devia imediatamente cumprir, sua prerrogativa constitucional, ou seja, a tão decantada “liberdade de informação”; primeiramente para enaltecer o inquisidor e também para filmar, fotografar e promover o linchamento moral de “tão perigoso meliante” - quase um Marcola - o Dr. altamente qualificado que se insurgiu contra determinações burocráticas absurdas, mas ao mesmo tempo salvou tantas vidas.

Hoje, o Dr. Joaquim está impedido de praticar a medicina, não pode ausentar-se de sua cidade, tudo por força de sua liberdade provisória e das ações penais em que se viu envolvido. Mas, enquanto isso, aqueles pobres pacientes terminais continuam esperando a prorrogação de suas vidas na fila ordinária do SUS.

Tudo de acordo com as determinações burocráticas em vigor...

HELENA MARIA SANTOS MAIA MANHÃES PEREIRA

·Defensora Pública (inativa) do Estado do Rio de Janeiro;

·Professora (aposentada) de Direito Processual Penal e Direito Processual Constitucional da Universidade Candido Mendes (campus Nova Friburgo – RJ);

·Membro da Comissão de Ética do Conselho Comunitário de Segurança de Nova Friburgo – RJ.

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