sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Márcia Ferrante

É curioso, mas, na medida em que venho obtendo mais informações acerca das nuances técnicas que envolvem o sistema de transplantes, considero ainda mais grave o que vem acontecendo com o Dr. Joaquim Ribeiro Filho.

Até então minha perplexidade limitava-se ao fato de eu confiar plenamente no seu caráter, além de acompanhar de perto, há anos, a sua seriedade e dedicação absoluta à grandiosa missão que escolheu, a qual, sem dúvida, não é para qualquer um. Afinal de contas, como tem sido reiteradamente ressaltado, o Dr. Joaquim poderia gozar, com os conhecimentos que possui – reconhecidos a nível internacional, diga-se de passagem – de um padrão monetário bem mais alto, com muito mais qualidade de vida, sem precisar se aborrecer, perder noites de sono e se privar, muitas vezes, do próprio convívio familiar, mas, ao invés disso, preferiu se engajar na luta pela sobrevivência, inclusive abrindo mão se uma vida social mais agitada, já que o seu dia a dia se resume a ir de casa para o trabalho e vice-versa.

Agora, um pouco mais inteirada a respeito do assunto, revolto-me ainda mais com a exposição feita pela mídia e com a arbitrariedade da polícia federal, pois, em se tratando de assunto que, dada a sua complexidade, envolve uma série de aspectos altamente técnicos, decerto não haveria tempo hábil, pela exigüidade do tempo que há entre a captação, o transporte do órgão e o transplante, para questionar minuciosamente cada critério que pudesse comprometer a ordem de uma fila que, como só agora revelado publicamente, não era das mais organizadas. Tanto assim, que até transplante em paciente trocada já aconteceu “por engano” da coordenação da Central de Transplantes, principal denunciadora do chamado “esquema fura-fila”.

Pois bem. Foi exatamente dentro desse quadro caótico que o Dr. Joaquim optou, com a consciência absolutamente tranqüila e com respaldo na legislação específica que rege a matéria, por tentar salvar a vida de pessoas que desesperadamente lutavam por uma chance, ao invés de se render aos entraves burocráticos e desperdiçar, mais uma vez, essa chance, quando se sabe que a captação, por culpa dos seus responsáveis, é tão precária e que há tantos órgãos literalmente jogados na lata do lixo.

Será que as pessoas abastadas têm que ser condenadas à morte? Nesse caso, o que poderá ser dito, então, a respeito da Sra. Jânia, que mesmo sendo uma pobre coitada, também viu sua oportunidade sendo desperdiçada em virtude da malsinada burocracia?

Enfim, o fato é que, como toda questão polêmica, essa é mais uma que ensejará as mais diversas opiniões que, numa democracia, evidentemente, têm que ser respeitadas, mas daí a considerar razoável que o Sr. Joaquim seja exposto, da maneira como foi, como se fosse chefe de uma quadrilha que desvia órgãos, sistematicamente, em busca de dinheiro é forte demais. É inaceitável, é revoltante, é desanimador, é antipatriota, é “anti” tudo o que eu acreditava até então. Para o meu senso de justiça, essa é uma das piores, aliás, a pior agressão que eu já presenciei em toda a minha vida e é exatamente por isso que o meu sentimento de revolta me corrói a cada dia.

Para finalizar, eu diria que o Dr. Joaquim sequer desfruta de um padrão compatível com a sua atividade profissional, pois, para meu gosto – desculpe-me a franqueza, meu cunhado – ele é até simples demais!

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