sábado, 9 de agosto de 2008

Márcia Ferrante Ribeiro

Tentar externar o que sinto em relação ao que vem acontecendo com o Dr. Joaquim Ribeiro é tarefa assaz difícil, pois nada do que eu venha a dizer irá retratar a minha indignação e, acima de tudo, a minha tristeza. Sinto-me profundamente angustiada, não só como amiga do Joaquim, por quem tenho desmedido respeito e admiração, mas também como esposa de seu irmão, que jamais vi sofrer tanto nos treze anos de nossa convivência e, acima de tudo, como cidadã, pois agora não tenho mais dúvida de que estamos vivendo numa sociedade em que os valores se encontram absolutamente fora de ordem.

Não posso me esquecer do dia em que, numa reunião íntima, estritamente familiar, minha sogra externou sua natural preocupação de mãe em virtude do desgaste que o Joaquim vinha sofrendo, pedindo-lhe, inclusive, para se afastar dos transplantes, já que, com a competência dele, poderia ganhar muito melhor com cirurgias particulares menos complexas, sem tantos aborrecimentos, ao que ele lhe respondeu, com a paixão que só os grandes idealistas possuem, que seu compromisso era com a vida dos pacientes e que ele jamais poderia deixá-los na mão.

Aliás, não foram raras as ocasiões em que presenciei vários familiares fazendo apelos para que o Joaquim desistisse de fazer transplantes, mas ele sempre afirmou e reafirmou que se sentia na obrigação de salvar vidas e que isso era uma questão pessoal, um sonho, um ideal...

Poucas pessoas trabalham de forma tão dedicada e apaixonada e, por incrível que pareça, o Dr. Joaquim, que é uma dessas raríssimas exceções, está impedido de exercer sua nobre medicina, o que, certamente, já vem acarretando graves prejuízos aos doentes que continuam aguardando na fila de espera, o que, sem dúvida - e isso eu posso garantir - era o seu maior receio.

É realmente lamentável que as informações sejam veiculadas de forma tão equivocada e leviana, sendo que, no caso do Joaquim, especificamente, me doeu ainda mais, pelo fato de ser, justamente ele, dentre todos os meus cunhados, o mais desprendido em relação aos bens materiais. Quem o conhece, tem a certeza de que ele, decididamente, não combina com nenhuma daquelas terríveis acusações e, talvez por isso mesmo, ou seja, por ser tão gritante a injustiça é que todos nós (parentes, amigos, colegas, pacientes etc) estamos nos sentindo tão incomodados; é como se a nossa própria moral também estivesse sendo destruída.

O Joaquim, pelo seu total comprometimento com seus ideais, está sendo um verdadeiro mártir, mas o mais triste é que a humanidade é a maior perdedora, pois não se encontram pessoas tão sérias e socialmente comprometidas em cada esquina. É mais ou menos como jogar um órgão em perfeitas condições de ser doado, na lata do lixo.
Na verdade, isso é mais um desabafo do que propriamente uma carta de apoio, mas quem me conhece sabe que eu jamais me mobilizaria se não acreditasse em cada palavra que estou dizendo.
Que Deus proteja esse grande homem!!!
Márcia Ferrante Ribeiro

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