A evolução dos transplantes no Hospital Universitário
Stéphanie Garcia Pires
O Dia Mundial do Rim foi instituído em 2006 pela Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN). A data ficou definida como a segunda quinta-feira de março, que este ano cai no dia 8.
Segundo cálculo da ISN, uma em cada dez pessoas tem algum grau de disfunção renal em todo o mundo. Para chamar a atenção para o problema 50 países participam de atividades ligadas ao evento. No Brasil diversos estados organizaram palestras e seminários abertos ao público.
No Rio de Janeiro, a principal atividade faz parte da comemoração dos 29 anos de existência do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Uma Mesa Redonda formada por especialistas em transplante de órgãos.
Os profissionais apresentaram a experiência do hospital. Como informou o coordenador da Equipe de Transplante Renal, professor Renato Torres Gonçalves, que o primeiro transplante de rins realizado no HUCFF foi em 1989, entre irmãos. Desde então, 803 intervenções desse tipo se sucederam.
Dos casos tratados pela equipe médica do hospital, 40% contou com doadores cadáveres ou com morte encefálica, e os demais, com doadores vivos. Este último é o que apresenta menos complicações clínicas e revela um extenso índice de sobrevida dos pacientes transplantados, por se tratar de uma cirurgia programada, que dispensa o longo tempo de espera por um rim. Além disso, órgãos de doadores vivos têm a vantagem de uma vida média bastante elevada, de aproximadamente 23 anos.
O programa de transplante renal lida com dificuldades. Quase metade dos doentes avaliados sequer chega a efetivar a operação. Há ainda 14% de cirurgias sem sucesso, levando ao óbito de alguns pacientes, chances que são particularmente críticas em se tratando de um doador cadáver e/ou idoso.
Dentre as razões mais comuns, estão as infecções, as doenças cardiovasculares e a perda do enxerto – este devido a agressões ao rim, a rejeição do mesmo ou o seu não funcionamento. Tais riscos são menores em pessoas negras e jovens.
Uma observação final feita pelo professor Renato diz respeito aos transplantes simultâneos de pâncreas e rim. Dos 12 procedimentos realizados no HUCFF, metade dos pacientes não resistiu, em grande parte por causa de infecções, e três foram diagnosticados com a perda do pâncreas.
Por sua vez, o coordenador da Equipe de Transplantes de Fígado, professor Joaquim Ribeiro, discutiu esse tipo de transplante no seu setor, operação que teve início no Hospital Universitário em 1993. A Unidade realiza aproximadamente 311 cirurgias e mantém um índice de sobrevida acima do nível nacional. Outra conquista da equipe do HUCFF foi seu pioneirismo mundial em realizar, com sucesso, o transplante de fígado em uma paciente portadora de Síndrome de Down.
O transplante hepático adota diferentes técnicas. A opção “Dominó” consiste em passar um fígado novo para um paciente e usar o antigo órgão deste para um segundo candidato à cirurgia. O “Split” é a divisão do órgão de um doador cadáver, geralmente de grande peso corporal, e sua distribuição para dois receptores, que devem ser mais magros e/ou mais jovens. Há ainda o transplante “Intervivo”, realizado entre aparentados. Nesse caso, o doador, por ainda estar vivo, cede apenas parte de seu fígado.
A maioria das cirurgias utiliza doadores cadáveres, porém há um número bastante reduzido de órgãos disponíveis no Brasil. Para contornar esta adversidade, os médicos buscam alternativas, como uma expansão no aproveitamento de Fígados Marginais, que são desprezados, embora sejam vastamente utilizados em outros países.
Segundo o coordenador da Equipe do Transplante de Medula, o professor Angelo Maiolino, a medula óssea, ou, transplante de células tronco hematopoiéticas, pode ser efetuado a partir de distintos doadores. Quando autólogo, o paciente doa para si mesmo. Suas células são capturadas do corpo e tratadas com quimioterapia e radioterapia. Este processo requer uma crio-preservação, congelando as células gradualmente, para em uma outra ocasião serem recolocadas no paciente. Os demais grupos de doadores são o singênico (gêmeos univitelinos) e o alogênico (familiares compatíveis ou não aparentados).
O número de transplantes de células tronco hematopoiéticas para autólogos teve uma considerável elevação nos anos 90, entretanto, sofreu uma queda em 2000, entre outros fatores, como elevados custos. Neste mesmo ano, os transplantes com doadores singênicos e alogênicos alcançaram um pequeno aumento, após longo período em estabilidade numérica.
O professor Angelo destacou uma importante fonte de células tronco: o cordão umbilical. O Brasil vem expandindo seu banco público de armazenamento destes cordões, empreendimento consideravelmente essencial, pois é aí que cerca de 80% dos pacientes encontram células compatíveis para buscar a cura.
O HUCFF ainda não possui credencial para cirurgias com doadores não aparentados, porém se considera perfeitamente apto para tal. Apesar disso, vale destacar que o hospital está entre os dez centros especializados no país em transplantes de medula óssea, considerados os mais complexos. O projeto pôde ser aprimorado após receber, em 1997, investimentos da Petrobras, e em 2001, quando foi inaugurada uma unidade própria no hospital para suas atividades.
O expositor apontou também os estudos multicêntricos como uma iniciativa relevante para o aperfeiçoamento médico dos transplantes de medula óssea. E isto foi realizado pela UFRJ - junto a UNICAMP, a Santa Casa (SP) e a USP (Rio Preto) - que lidou com 52 dos 171 pacientes envolvidos. Os estudos conseguiram garantir uma maior sobrevivência dos pacientes de baixo risco.
Por último, o professor Carlos Henrique Boasquevisque, médico da equipe do transplante pulmonar do HUCFF, falou sobre o essa especificidade cirúrgica, considerada de baixa incidência devido à dificuldade de se encontrar doadores compatíveis. Este projeto, como os demais, contou com uma equipe multidisciplinar e atuou no ano de 1999 em seu primeiro caso. Antes, os médicos envolvidos foram treinados e conheceram um projeto semelhante em Porto Alegre para se familiarizarem com a realidade desses transplantes.
Dos casos registrados, apenas 23% foram transplantes de pulmão bilaterais, uma intervenção mais complexa do que os unilaterais, por sofrer com índices mais elevados de disfunção do enxerto. Apesar de complicados, em observações a longo prazo, os transplantes bilaterais apresentam uma vantagem maior de sobrevida em casos de rejeição crônica. O Hospital Universitário está entre os cinco do país a se especializar neste campo da medicina, e já atendeu 21 pacientes, com a utilização de 29 enxertos.
http://www.olharvital.ufrj.br/2006/index.php?id_edicao=071&codigo=2
terça-feira, 5 de agosto de 2008
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